

Os editores e diretores da The Economist vivem em uma realidade paralela
A globalização integrou economias mundiais beneficiando supostamente os EUA, que assumiram papel central pós-Guerra Fria. Mas também trouxe prejuízos significativos à economia americana.
Os EUA sofreram com a perda de sua base industrial, aparelhamento de instituições por corporações e peso desproporcional no processo global, apesar da narrativa otimista de defensores da globalização.
Boletim:
Parece que Mickey Mouse tem propriedades na terra da rainha. No mínimo, o nosso saudoso rato marinheiro tem uma kitnet alugada na The Adelphi, 1-11 John Adam Street, em Londres, sede da revista The Economist. Não existe outra explicação para a postura editorial da revista britânica; seus editores e diretores parecem estar vivendo na Disneylândia e não na realidade que todos nós compartilhamos.
A revista acusa Donald Trump de jogar os EUA no obscurantismo econômico do século XIX, fazendo os EUA e o mundo recuarem anos-luz em desenvolvimento econômico e prosperidade. Diz ainda que Trump está destruindo a globalização, “criadora de uma prosperidade sem precedentes”, da qual os EUA foram, supostamente, os maiores beneficiados.
Globalização é o nome dado ao processo em que as economias do mundo foram integradas. Isso começou a ganhar força especialmente após a Segunda Guerra Mundial e se intensificou nas décadas de 1980 e 1990. Neste período, o comércio internacional cresceu muito, com países exportando e importando produtos em larga escala. Empresas multinacionais se espalharam pelo mundo, instalando fábricas em diferentes regiões, aumentando o fluxo de dinheiro entre nações, facilitado pelo uso do dólar como a moeda de reserva do mundo. Os Estados Unidos realmente tiveram um papel central nesse sistema. Após o fim da Guerra Fria, em 1991, eles se consolidaram como a maior potência econômica, definindo boa parte das regras do comércio mundial.
Organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), influenciadas pelos EUA, ajudaram a promover o chamado “livre comércio”, que incentivava a redução de barreiras para facilitar a troca de bens e serviços entre os países. Mas isso foi realmente benéfico para os EUA? Eles realmente foram os grandes vencedores do processo de globalização? Donald Trump é um louco desvairado?
No processo de globalização, os EUA perderam a sua base industrial, tiveram suas instituições de Estado aparelhadas por grandes corporações e sua economia foi lentamente se tornando rentista e especulativa. As instituições americanas que formularam as regras do mundo globalizado não estavam beneficiando o país. O povo americano e sua economia eram apenas instrumentos para a criação de uma “comunidade global”.
O cientista político Zbigniew Brzezinski – que serviu como Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos durante a presidência de Jimmy Carter – escreveu detalhadamente o caminho que os EUA deviam seguir para manter a sua hegemonia, e como esta hegemonia deveria criar uma comunidade global, governada por um sistema de burocracias de alcance mundial. A globalização não beneficiou os EUA; pelo contrário, jogou sobre eles todo o peso do processo de integração das economias mundiais. Mas para a The Economist, nada disso aconteceu. Para os editores da revista britânica, a globalização foi um processo tão natural quanto o florescer de uma árvore, quase uma profecia sendo cumprida — talvez a do reino do anticristo —, sem que ninguém tivesse que pagar essa conta.
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