

Há cerca de 50 anos, os Estados Unidos enfrentam um desequilíbrio econômico estrutural, consumindo mais do que produzem e financiando esse déficit com a emissão de dólares, a moeda de reserva global, um “privilégio exorbitante” que, no entanto, cobra um preço elevado: a desindustrialização.
Esse problema está enraizado no Dilema de Triffin, um conceito dos anos 1960 que revela a contradição de uma moeda nacional ser a reserva mundial, já que emitir mais dólares para atender à demanda global gera déficits comerciais que, com o passar do tempo, corroem a confiança na moeda, algo que se agravou desde 1971, quando o fim do sistema de Bretton Woods transformou o dólar em uma moeda de câmbio flutuante e o déficit comercial americano disparou para cerca de US$ 1 trilhão ao ano.
Nascido na Bélgica em 1911 e naturalizado cidadão norte-americano, Triffin foi muito mais do que um acadêmico brilhante — ele foi um dos primeiros a diagnosticar uma contradição estrutural no coração do sistema monetário internacional, um paradoxo que ficou conhecido como Dilema de Triffin.
A solução proposta pelo economista belga seria a criação de uma moeda global, que deveria estar sob tutela de uma instituição de igual alcance — algo como uma moeda de reserva, impressa, distribuída e administrada por uma instituição como o FMI —, o que deveria nos fazer refletir sobre o quão insustentável era a ordem baseada em regras fundada no pós-Bretton Woods.
Se um silogismo simples como o proposto por Triffin é capaz de expor a insustentabilidade do sistema monetário internacional, deveríamos conjecturar quando se dará o colapso e quais seriam os efeitos de uma ruptura dessa natureza.
Sabemos que após o tratado de Bretton Woods, o processo de globalização da economia e burocratização da política começaram, promovendo a integração econômica do mundo. Uma crise como o colapso da moeda de reserva não criaria uma crise mundial?
Bem, Trump anunciou em 2 de abril de 2025 tarifas agressivas, como 67% sobre a China e 10% sobre o Brasil, com o suposto objetivo de proteger a indústria nacional e desacelerar o crescimento chines. Talvez essas tarifas tenham uma função estratégica, pois, ao pressionar os mercados domésticos, criam-se condições para o Federal Reserve reduzir os juros, aliviando a crise da dívida Americana de US$ 36 trilhões, dos quais US$ 28 trilhões vencem nos próximos quatro anos, enquanto as taxas atuais, acima de 4%, superam a média de 3,3% da dívida, tornando a queda dos juros uma necessidade urgente que pode ser complementada pelo aumento de arrecadação das tarifas e cortes de custos.
Surpreendente ainda é a aposta de Trump no Bitcoin. O “Bitcoin Act” propôs a compra de US$ 100-200 bilhões em criptomoedas para diversificar reservas e quitar parte da dívida, uma resposta à desdolarização global que se intensifica com a China reduzindo sua exposição a títulos americanos desde 2022, movimento acelerado pelo congelamento de US$ 300 bilhões em reservas russas como sanções. É provável que Trump esteja tentando reordenar a arquitetura econômica mundial, desarmando uma bomba relógio que poderia ser o gatilho para um governo mundial.
Mas, claro, a grande mídia está preocupada com as bolsas de valores, uma hipotética recessão e a defesa dos valores liberais que nos trouxeram para a beira deste precipício.
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