
Há algo de profundamente desonesto na narrativa liberal que tenta imputar a Donald Trump a culpa pela instabilidade financeira global. O colapso de crédito, a disparada das falências e a concentração absurda do consumo não começaram com Trump — são sintomas de um modelo que já estava em estado terminal, baseado em dívida infinita, estímulo artificial e um mercado de capitais inflado por liquidez tóxica.
A elite financeira global criou um sistema que exige crescimento perpétuo baseado em endividamento. Nos Estados Unidos, o consumo não é sustentado pela renda produtiva, mas por uma ciranda de crédito que já dá sinais evidentes de exaustão. Em 2024, a taxa de inadimplência dos cartões de crédito bateu recordes, e o número de falências corporativas ultrapassou 690 — um patamar visto apenas na crise de 2010. Isso não é um acidente de percurso. É o resultado lógico de um sistema que transforma tudo em ativo financeiro e trata a economia real como uma distração.
A capitalização das bolsas americanas chegou a impressionantes 64 trilhões de dólares — metade de todo o PIB mundial. E mais: a alocação de investimentos em ações atingiu o maior nível desde 1952, ao mesmo tempo em que 10% da população americana passou a responder por 50% do consumo. Esse desequilíbrio não é apenas econômico — é político. Revela um sistema que protege seus próprios rentistas enquanto transfere o risco para o povo.
É nesse contexto que Trump surge como uma ruptura. Em vez de fingir que o modelo ainda funciona, ele tenta enfrentá-lo — com tarifas, reindustrialização e recomposição da soberania econômica. É claro que isto gera ruído. Mas não se trata de populismo ou voluntarismo. Trata-se de uma estratégia de longo prazo, que exige, sim, sacrifícios imediatos. Como ele mesmo disse: “Não dá para consertar um vazamento sem quebrar a parede.”
O que os liberais querem é justamente o oposto: manter o teatro da normalidade pintando a parede molhada. E quando o vazamento reaparece — como sempre reaparece — a culpa é atribuída a quem tentou fazer a reforma estrutural. O problema nunca é o modelo, mas quem ousa desafiá-lo. A ironia é que Trump, acusado de improvisador, é o único que apresenta um plano coerente para reequilibrar a relação entre economia real e finanças especulativas.
Seu plano é uma releitura do “sistema americano de economia política”, defendido por Alexander Hamilton e Friedrich List: política industrial, tarifas protetivas, incentivo à manufatura, autonomia estratégica. Tudo o que os liberais demonizaram por décadas, chamando de atraso ou estatismo, agora revela-se necessário até mesmo para preservar a segurança nacional. O problema é que os donos do sistema não querem abrir mão dos benefícios que ele oferece — ainda que seja insustentável.
E aqui entra a hipocrisia: os mesmos que celebraram a financeirização da economia americana agora choram porque Trump tenta refazer a indústria naval, reestruturar os portos, garantir o abastecimento logístico e blindar as cadeias produtivas. A bolha não estourou por causa de Trump. Estourou porque era uma bolha. Trump apenas se recusou a manter a farsa.
Este é apenas o pano de fundo da verdadeira disputa em curso: uma guerra entre modelos, onde a geopolítica, a infraestrutura e o poder jurídico estão no centro do tabuleiro. A bolha é só o sintoma. O diagnóstico e o tratamento — estes sim — dividem o mundo.
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